Este artigo explora diversos modelos de hospitais de transição ao redor do mundo, destacando suas características, benefícios e desafios.Os hospitais e clínicas de transição no Brasil ainda estão consolidando seu papel no sistema de saúde, mas longe de ser um conceito novo e não comprovado. Essa peça importante da cadeia assistencial tem crescido significativamente ao redor do mundo e demonstrado impactos positivos para pacientes, profissionais e sistemas de saúde. Inspirados nos modelos internacionais, os hospitais de transição brasileiros buscam adaptar as melhores práticas à realidade local, criando soluções inovadoras. Vamos mergulhar nos casos de sucesso de países que já adotaram essa abordagem com sucesso.
O conceito de Hospital de Transição é relativamente novo, mas a ideia por trás desses estabelecimentos vem de um esforço global para melhorar o fluxo de pacientes dentro do sistema de saúde, aliviando a pressão sobre hospitais tradicionais e oferecendo um meio-termo entre a internação e a alta hospitalar. Mas, afinal, onde e como tudo isso começou?
O surgimento do Hospital de Transição no mundo
A origem exata do "primeiro hospital de transição" não é fácil de determinar, pois diferentes modelos começaram a surgir em vários países ao mesmo tempo, cada um adaptado às necessidades locais. No entanto, a ideia de cuidados pós-agudos como uma extensão natural dos hospitais tradicionais pode ser atribuída aos Estados Unidos, especialmente com o desenvolvimento de hospitais subagudos e unidades de reabilitação nas décadas de 1960 e 1970. O Rusk Institute of Rehabilitation Medicine, fundado em 1954, é frequentemente citado como um dos primeiros exemplos desse modelo, adotando uma abordagem de reabilitação intensiva voltada para a transição dos pacientes do hospital para um ambiente mais adequado à recuperação. Além disso, a criação do Medicare nos anos 1960 e sua regulamentação para expandir o acesso a cuidados pós-agudos na década de 1980 foi um marco importante, permitindo o financiamento de serviços de reabilitação e cuidados de longo prazo para uma população crescente de pacientes que necessitavam de recuperação, mas não de internação em unidades hospitalares convencionais.
Esse modelo pioneiro nos Estados Unidos não apenas ajudou a aliviar a sobrecarga dos hospitais tradicionais, como também influenciou outros países a desenvolverem soluções semelhantes. No Canadá, instituições como o Toronto Rehabilitation Institute, fundado em 1945, também desempenharam um papel crucial na adaptação do conceito de cuidados de transição, oferecendo reabilitação intensiva e continuada para pacientes em recuperação de doenças graves e cirurgias complexas. Já no Reino Unido, o conceito foi estruturado no contexto do NHS a partir dos anos 1970, com a criação de unidades de cuidados pós-agudos focadas na recuperação prolongada, sem a necessidade de internação em hospitais tradicionais. O sucesso desses primeiros modelos ajudou a consolidar os hospitais de transição como uma peça fundamental no sistema de saúde, proporcionando cuidados de qualidade, otimizando recursos e promovendo a recuperação dos pacientes em ambientes mais adequados à sua condição.
Esse movimento global continua a evoluir, com países como o Brasil também começando a adotar e adaptar esses modelos, oferecendo soluções inovadoras para a gestão de pacientes e a continuidade dos cuidados no pós-hospitalar.
Vamos apresentar a seguir os primeiros modelos de hospitais de transição nos Estados Unidos, Canadá e Reino Unido:
1. Estados Unidos
Nos Estados Unidos, o conceito de cuidados pós-agudos começou a se consolidar a partir das décadas de 1960 e 1970, com o aumento das cirurgias e a necessidade de se gerenciar melhor a recuperação dos pacientes. O primeiro grande marco institucional para o modelo de hospital de transição foi a criação do Medicare, em 1965, que possibilitou a ampliação da cobertura para cuidados em unidades de reabilitação e subagudos.
Hospitais Subagudos e Reabilitação: o modelo de hospital subagudo começou a tomar forma no final dos anos 1960, com hospitais que atendiam pacientes que precisavam de cuidados após cirurgias complexas, mas não o nível de cuidado intensivo. Isso foi impulsionado pela sobrecarga dos hospitais tradicionais. Um exemplo é o Rusk Institute of Rehabilitation Medicine da Universidade de Nova York, fundado em 1954, que é considerado um dos pioneiros na reabilitação intensa e no cuidado pós-agudo. Esse instituto ajudou a definir como as unidades de reabilitação poderiam funcionar de forma integrada ao hospital, promovendo a transição dos cuidados hospitalares para os de recuperação em um ambiente mais focado na reabilitação.
Hospitais de Cuidados Paliativos e Pós-Agudos: ao longo das décadas seguintes, o modelo foi evoluindo para incluir mais especializações, como cuidados paliativos e unidades de cuidados de longo prazo, como as oferecidas pelo V.A. (Veterans Affairs) para ex-militares. Este modelo de cuidados foi sendo cada vez mais reconhecido em políticas de saúde nos EUA, especialmente com a implementação de regulamentações mais robustas pelo Centers for Medicare & Medicaid Services (CMS).
2. Canadá
No Canadá, a criação dos cuidados subagudos e de reabilitação também ocorreu na mesma época, como parte da expansão do sistema de saúde pública no país. No entanto, o modelo canadense se destacou pela criação de unidades mais focadas na reabilitação funcional, à medida que o sistema de saúde buscava maneiras de lidar com o crescente número de pacientes com doenças crônicas.
Um dos primeiros modelos de transição no Canadá pode ser associado ao Toronto Rehabilitation Institute , que, desde sua fundação em 1945, se concentrou em fornecer serviços para pacientes em recuperação de lesões graves e doenças crônicas. Esse hospital foi pioneiro na ideia de usar um ambiente de reabilitação para facilitar a recuperação e a transição dos pacientes do hospital para a casa. A partir da década de 1970, ele passou a adotar práticas de reabilitação intensiva para os pacientes que já estavam fora de cuidados críticos, mas ainda necessitavam de acompanhamento especializado.
3. Reino Unido
No Reino Unido, o modelo de hospitais de transição também começou a ser mais formalizado durante a década de 1970, com uma ênfase em cuidados subagudos e cuidados paliativos, à medida que o sistema nacional de saúde (NHS) procurava reduzir os custos e melhorar a continuidade do cuidado.
A ideia de cuidados pós-agudos começou a ser discutida formalmente no NHS em 1976, com a criação de unidades especializadas para pacientes em fase de recuperação. Em 1985, o NHS Trusts no Reino Unido começou a estruturar unidades especializadas de reabilitação em várias regiões do país, para oferecer um cuidado mais prolongado e adequado, mas fora do ambiente de hospitais de emergência ou cuidados intensivos.
4. Alemanha
Na Alemanha, o modelo de cuidados pós-agudos e transição foi fortemente influenciado pela Lei de Seguro de Saúde de 1883 e, posteriormente, por reformas no sistema de saúde nas décadas de 1980 e 1990. No entanto, a estrutura mais formal de unidades de cuidados pós-agudos surgiu com o aumento da demanda por cuidados a longo prazo devido ao envelhecimento da população.
O modelo de cuidados subagudos começou a se estabelecer a partir dos anos 1990, com a criação de hospitais especializados em reabilitação e unidades de cuidados pós-agudos dentro de hospitais tradicionais. A Rehabilitationskliniken (clínicas de reabilitação) se tornaram uma parte essencial do sistema de saúde alemão, focando em pacientes que passaram por cirurgias complexas ou doenças graves, mas não necessitavam de cuidados hospitalares intensivos. Essas unidades trabalham em estreita colaboração com hospitais para fornecer a continuidade de cuidados e facilitar a transição do paciente para a recuperação em casa.
5. França
Na França, o conceito de cuidados pós-agudos e hospitais de transição também começou a se formar durante a segunda metade do século XX, em resposta à necessidade de melhorar a gestão de pacientes após a alta hospitalar. O sistema de saúde francês, caracterizado por sua Assurance Maladie, passou a oferecer cobertura para cuidados de reabilitação e unidades de cuidados prolongados.
As primeiras unidades de reabilitação intensiva na França começaram a ser implementadas nos anos 1970, com hospitais especializados em soins de suite et de réadaptation (SSR) – cuidados de continuidade e reabilitação. Essas unidades se tornaram populares principalmente para pacientes após cirurgia, acidentes ou doenças graves. Um exemplo notável é o Centre de Réadaptation de Mulhouse, fundado nos anos 1970, que foi uma das primeiras unidades a adotar um modelo de cuidados pós-agudos focado na recuperação de pacientes com necessidades de reabilitação física e terapêutica.
6. Japão
O Japão, com sua população rapidamente envelhecendo, tem investido significativamente em cuidados de longo prazo e pós-agudos. A partir dos anos 1990, o país implementou reformas no sistema de saúde que permitiram a criação de unidades especializadas para a reabilitação e cuidados de transição.
O modelo japonês é conhecido por seus hospitais de cuidados prolongados que fornecem serviços de reabilitação e cuidados pós-agudos. Esses hospitais têm se tornado cada vez mais populares à medida que o número de idosos aumenta, e as unidades de kango (assistência geriátrica) desempenham um papel importante na transição de cuidados, fornecendo acompanhamento para pacientes que não necessitam de hospitalização completa, mas ainda requerem suporte médico e terapêutico. O Japan Health and Welfare Association foi uma das primeiras instituições a organizar o modelo de cuidados de transição no país.
Os Hospitais de Transição no Brasil
O primeiro modelo de hospital de transição no Brasil começou a tomar forma na década de 1990, com o desenvolvimento de unidades de cuidados intermediários ou cuidados subagudos. Esse modelo buscava atender a uma necessidade crescente no sistema de saúde brasileiro: pacientes que necessitavam de cuidados médicos contínuos após a alta hospitalar, mas não precisavam de internação em unidades de terapia intensiva. Embora o conceito de "hospital de transição" como um todo tenha se consolidado ao longo das últimas décadas, a rede de reabilitação e cuidados subagudos foi a primeira a responder a essa demanda.
Evolução dos Cuidados Subagudos no Brasil
Nos anos 1990, o Brasil começou a dar os primeiros passos na criação de unidades de cuidados pós-agudos, que eram uma extensão dos hospitais tradicionais, focadas na reabilitação de pacientes em recuperação. Durante esse período, muitos hospitais públicos e privados passaram a incorporar unidades de internação para reabilitação e cuidados subagudos. As Unidades de Terapia Intensiva Intermediária (UTI intermediária), por exemplo, foram uma resposta para atender pacientes que não requeriam cuidados intensivos, mas ainda precisavam de monitoramento e suporte médico.
O Sistema Único de Saúde (SUS) foi um dos principais responsáveis por implementar e expandir esse tipo de modelo no Brasil, embora inicialmente o foco estivesse em atender pacientes com doenças crônicas, acidente vascular cerebral (AVC) e traumas graves. Com o tempo, as unidades de cuidados intermediários foram sendo aprimoradas, com maior ênfase em reabilitação física e acompanhamento médico especializado.
Uma parte crucial para a consolidação desses modelos foi a implementação das Políticas de Atenção à Saúde, como a Rede de Atenção às Urgências e a Atenção Domiciliar, que ajudaram a descentralizar os cuidados hospitalares e a criar uma rede mais ampla para os pacientes em recuperação. Na década de 2000, com a expansão do SUS, começaram a ser estabelecidas políticas públicas focadas no atendimento de saúde a longo prazo, incluindo cuidados pós-hospitalares.
No Brasil, a rede de hospitais de transição foi crescendo de forma mais significativa nas últimas duas décadas, com um número maior de instituições dedicadas exclusivamente ao modelo de reabilitação pós-aguda. Além disso, com o envelhecimento da população e o aumento das doenças crônicas não transmissíveis, houve a necessidade de adaptar esse modelo às necessidades de um público cada vez mais idoso, levando à criação de novos centros de reabilitação.
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